Bingo: O Rei das Manhãs | Uma Obra Digna de Aplausos

abril 09, 2018



Bingo: O Rei das Manhãs é um filme inspirado na vida de Arlindo Barreto. O nome talvez não te lembre absolutamente nada, mas isso só acontece porque esse homem não era famoso por ser Arlindo, era famoso por ser o BOZO.

O filme de Daniel Rezende não conta a história do Bozo, conta a história de Arlindo Barreto, o homem por trás do palhaço. Mas não é uma cinebiografia, é um filme inspirado na vida deste homem. Um homem que sabia do que era capaz, um homem que lutou pela fama, pelos holofotes e no meio de toda essa luta se perdeu por caminhos turvos. O filme bebe da história de Arlindo Barreto e nos apresenta o personagem ficcional Augusto Mendes, o BINGO.

O Bozo é um dos grandes personagens da história da Tv Brasileira. Marcou toda uma geração, é um ícone dos anos 80. A história do palhaço e seu talento para divertir já é muito conhecida. Daniel Rezende (Diretor) e Luiz Bolognesi (Roteirista) decidiram então contar a história do homem por trás do nariz de palhaço. Uma história cheia de camadas e reviravoltas, uma história desafiadora e que tinha poder para se transformar num grande filme.

Uma história desafiadora precisa de pessoas que amam desafios para ser contada. É aí que entra Vladimir Brichta, um ator conhecidíssimo por seus papéis em novelas e seriados do canal 5. A história havia sido pensada para ter como protagonista Vagner Moura, um ator que já teve grandes atuações no cinema, um ator conhecido justamente por ter grandes papéis no cinema. Outra vez, É aí que entra Vladimir Brichta. Sua atuação em Bingo é simplesmente fantástica. É memorável. A história é realmente desafiadora, porque o personagem tem vários pontos diferentes de contato. Há o “Augusto” com seu filho, o Augusto como Bingo, o Augusto com sua mãe, o Augusto com sua produtora. É interessante assistir ao filme e notar a naturalidade com que Vladimir flutua por dentre esses pontos de contato, gerando e reagindo de forma orgânica, como se aquela história fosse a sua história, como se ele tivesse vivido cada um daqueles momentos. Um ator que queria ir além e encontrou no personagem a chance de transcender tudo o que já havia feito em uma carreira de sucesso. Bingo é também o carimbo na ficha de Vladimir Brichta, um carimbo que diz: Este é um grande ator. Um ator que pode realizar coisas grandes.

O casting feito para o filme foi impecável. As escolhas funcionam maravilhosamente bem. Eu gostei muito da atuação da Leandra Leal, fazendo a produtora Lúcia, uma mulher doce, mas firme em seus posicionamentos, uma mulher que na década de 80 foi extremamente importante por ocupar um espaço que era majoritariamente masculino. Gosto muito do personagem Vasconcelos, interpretado por Augusto Madeira. Um personagem pontual, que traz um tom cômico, mas também é um dos grandes pivôs da transformação do personagem de Vladimir Brichta. O filme ainda conta com Emanuelle Araújo, interpretando a Gretchen em seu início de carreira na tv, Pedro Bial como um dos chefões da tv rival e Domingos Montagner com uma atuação pontual e muito importante.

A história, como eu já disse, é desafiadora. Uma história que poderia e gerou um grandioso filme, mas é óbvio que uma boa história precisa cair em boas mãos e felizmente caiu em ótimas mãos! Daniel Rezende, o diretor do filme estava dirigindo o seu primeiro filme. Exatamente, Bingo é a obra de estreia de Daniel Rezende como diretor, dá pra acreditar? Tudo bem, Daniel Rezende já foi até mesmo indicado ao Oscar, sabia? Daniel é um dos grandes montadores. Trabalhou na montagem de Cidade de Deus, Tropa de Elite, Árvore da Vida, trabalhando com grandes nomes como Terrence Malick, Fernando Meirelles e José Padilha. Sua carreira como montador é brilhante e não tenho medo de dizer, com Bingo ele deu um belíssimo pontapé em sua carreira como Diretor.

Bingo O Rei das Manhãs é um espetáculo técnico. O filme tem um ritmo muito constante e muito atraente. É difícil pensar em fazer qualquer outra coisa enquanto se assiste ao filme. Ele tem aquele algo a mais que te prende completamente. A narrativa avança num ritmo frenético, as câmeras contam a história, a música conta a história, as luzes contam a história. Bingo é um belo exemplo de como um filme deve utilizar toda a linguagem cinematográfica em prol da história que está contando. A fotografia, a iluminação, a música, tudo converge para potencializar a história que está sendo contada. Isso é brilhante e isso mostra o belo trabalho do Diretor Daniel Rezende e de sua equipe!

Minha única crítica fica aos minutos finais do filme, acho que alguns minutos foram adicionados para contar um restinho de história que é importante, mas que talvez não coubesse dentro do filme. A sensação é que talvez o filme pudesse ter acabado alguns minutinhos antes, algumas poucas cenas antes. Mas, é só isso, é só essa gordurinha. O filme não tem mais nada que eu possa apontar de forma negativa.

Bingo, sem dúvida alguma é um dos maiores presentes que o povo brasileiro poderia receber. É uma pena não ter conseguido seu espaço no Oscar, mas isso de forma alguma diminui os méritos desse belíssimo filme. Daniel Rezende, meus parabéns. Vladimir Brichta, meus parabéns, Luiz Bolognesi, meus parabéns. A todos os envolvidos, meus parabéns.

Bingo é um lembrete da beleza e qualidade do nosso cinema. É um lembrete do que nós podemos fazer, das histórias que podemos e vamos contar!

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