Marco Polo | Viaje para a Mongólia Medieval

junho 01, 2018



Entre erros, acertos, grandes sucessos, fracassos e séries que ninguém nota, está Marco Polo. Poderíamos dizer que ela tem um pouco de tudo isso. É um grande acerto, é um sucesso, mas também é um grande fracasso, talvez o maior fracasso da história da Netflix.

Em 2016 a série foi cancelada, então é natural que você ainda não a tenha visto. Foram apenas duas temporadas, um orçamento digno de um blockbuster hollywoodiano e um prejuízo de quase 200 milhões de dólares. Falando assim, a série parece realmente um fracasso absoluto, indefensável, mas na verdade não é.

Antes de tudo, acho importante explicar para você sobre o que é a série, qual é o seu plot, então vamos lá!

A série conta como foram os primeiros anos de Marco Polo na corte do imperador Mongol, Kublai Khan. O jovem explorador italiano – que viria a se tornar uma lenda – foi tomado como prisioneiro pelo grande imperador, e passou a viver em um Reino próspero, mas dividido por intrigas, ambição e rivalidades.

A história de Marco Polo é bastante conhecida. Ele foi responsável por aproximar a Europa da Ásia, seus livros foram traduzidos para dezenas de línguas e são até hoje vistos como grandes tratados geográficos e históricos. A série avança da prisão de Marco, até a guerra travada para evitar a grande divisão do império.

Agora que você já tem alguma noção da história que a série conta, nós podemos ir um pouco além para falar mais sobre a série.

A primeira temporada tem 10 episódios, com um orçamento de 90 milhões de dólares. Eu não sei se você tem a exata noção do que isso significa, mas é muito dinheiro até mesmo para uma grande produção de Hollywood. Os valores que foram gastos, sem dúvida são o ponto chave para compreender o “fracasso” da série, tendo em vista que a expectativa da Netflix era expandir bastante o seu público, produzindo uma série histórica que narra fatos acontecidos na Ásia. Não há nenhum americano no elenco, a série foi filmada em Veneza, no Cazaquistão e na Malásia. É o primeiro “Drama Histórico” da Netflix, e por todos esses elementos esperava-se muito da série. As expectativas não foram alcançadas e por isso a série acaba em sua segunda temporada.

A série começou a ser produzida pela “Starz”, mas depois de ter alguns problemas com a China, a Netflix, em parceria com a “The Weinstein Company”, assumiu o projeto e lançou a série. Depois do cancelamento, John Fusco, idealizador do projeto até cogitou retomar a série sem a Netflix, mas isso foi antes dos irmãos Weinstein’s, terem seus nomes ligados a uma série de casos de abuso sexual em Hollywood. Ou seja, é bem provável que essas duas temporadas sejam tudo o que teremos de Marco Polo – Pelo menos nesse formato.

Enfim, agora que já falamos dos números altíssimos e das expectativas da Netflix, podemos falar dos grandes méritos da produção.

Uma das coisas que me encanta na série é o seu design de produção. Todas as cenas possuem uma construção muito complexa. Se a cena acontece na sala do trono, você vê o design do trono e as roupas do Khan, sempre compostas por elementos típicos da cultura Mongol, os móveis, armas. Enfim, foram construídos mais de 51 cenários complexos, buscando a maior aproximação possível dos relatos da época, contando, para isso, com pessoas que estiveram envolvidas na produção de “O último samurai”, além de historiados que focaram seus estudos no período específico. Essa preocupação de retratar a estética histórica, somada ao orçamento da série, resultam em um espetáculo visual, em que a mise en scene é composta, é completa, é cheia de elementos que dão à série esse ar histórico e extremamente realista.

Os atores tiveram de passar por grandes transformações para encarnar seus personagens históricos. Benedict Wong (Dr. Estranho, Guerra Infinita), precisou engordar 16 quilos e raspar o cabelo diariamente para interpretar o grande Imperador Kublai Khan. Lorenzo Richelmy, precisou aprender Inglês, montaria, artes marciais e lutas com espada, além de ter trabalhado muito seu porte físico. O elenco ainda tem outros ótimos atores, como Zhu Zhu (A Viagem), Tom Wu – que ganhou um especial pertencente ao contexto da série Marco Polo − (Batman Begins, 007 – Operação Skyfall), Joan Chen (O Último Imperador, Twin Peaks), Chin Han (Batman Cavalheiro das Trevas, Capitão América 2), além de atores que só haviam feito pequenas pontas.

Como a trama de Marco Polo é recheada de intrigas, vaidades e ciúmes, todos os atores que compõe a corte de Kublai Khan, acabam realizando um trabalho muito importante na construção de seu personagem. Remy Hii é o Príncipe Jingin, filho do imperador Kublai Khan e ele vai muito bem dando pequenas indicações sobre o ciúme que sentia quando via seu pai, o Grande Imperador, dando ouvidos à Marco, um estrangeiro. Ele trabalha isso de forma bastante sútil, com um ou outro momento mais ríspido. Mahesh Jadu, interpreta Ahmad, um dos protegidos, conselheiros e ministro financeiro de Kublai, mantendo sempre um tom solene, elegante e astuto. Sempre nos falando mais sobre si mesmo com os olhos, do que com a boca. Enfim, a série demanda de todos os envolvidos um grande esforço e se você assistir a série, não lhe restará dúvida que todos compreenderam sua função e seu papel.

A série evolui de forma muito orgânica, apresentando novos núcleos e colocando os personagens em novas situações. Você assiste a série ligado o tempo todo, prestando atenção nas novas linhas e conexões, nas novas intrigas e armações. Nesse sentido, não poderia deixar de falar do cuidado do roteiro em desenvolver essas tramas e tramoias, sem mudar o tom da série e sem perder o foco na trama principal. Ao mesmo tempo que a série aprofunda a relação entre os personagens – e faz isso muito bem −, ela apresenta uma trama romântica, apresenta tramas políticas, apresenta conflitos sociais e faz tudo isso de forma suave e natural. A série te permite compreender absolutamente tudo o que está acontecendo, desde a trama menor até o conflito principal.

Então, Marco Polo é um prato cheio para que gosta de séries históricas, é um prato cheio para quem se encanta com personagens complexos, intrigas e jogos de poder. A série acontece na Mongólia Medieval, na corte de Kublai Khan, neto do grande Gengis Khan, que conseguiu, inspirado por seu avô, estabelecer a Dinastia Yuan que durou 97 anos. A série nos dá um roteiro riquíssimo, excelentes atuações, personagens interessantíssimos e um visual arrebatador. Uma série de narrativa rica e de um belo trabalho de ambientação histórica. Uma produção caríssima, que gerou uma excelente série. Cancelada, infelizmente.

São duas temporadas com 10 episódios cada. Desfrute essa série, aproveite. É uma das melhores coisas já feitas pelo Netflix.







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