Três anúncios para um Crime | Crítica

fevereiro 17, 2018


Três anúncios para um Crime é um filme forte e pesado. Não é uma história investigativa. É uma história sobre pessoas, sobre personalidades, sobre feridas que custam a se curar, feridas que talvez nunca venham a se curar, é um filma sobre a dor.

Sete meses se passaram desde a brutal morte de sua filha. A polícia não encontrou o culpado e nem parece disposta a fazê-lo. Inconformada com o descaso e ineficácia da polícia, Mildred Hayes (Frances McDormand) decide alugar três outdoors, que a partir de então passam a estampar uma crítica a polícia e mais diretamente ao Xerife Bill Willoughby (Woody Harrelson), com o objetivo de chamar a atenção da polícia e da mídia para o assassinato brutal de sua filha, e a ausência de justiça.

É uma história simples, que como disse acima, nem trata da investigação em si - exceto em um único momento. O filme se desenvolve através de atuação fantásticas e de personagens com arco, com background, personagens tridimensionais, o que aponta para Martin MacDonagh, roteirista e diretor de Três Anúncios para um crime, que fez um excelente trabalho no desenvolvimento dos personagens e da trama.

O filme prende do início ao fim. É interessante que o roteiro não tenta abraçar o mundo, pelo contrário, a trama é desenvolvida ali, naquela cidadezinha cheia de fofoca e hipocrisia, é um plot simples, desenvolvido com humildade e com uma maturidade fascinante. O filme prende porque tem personagens fortes, tem uma tensão que escala brutalmente, mas que é balanceada com uma dose de humor na medida certa.

O filme nos apresenta as implicações da atitude de Mildred o tempo inteiro, e a cada nova ação, de cada personagem, nós temos novas implicações e consequências. Isso dá ainda mais peso e credibilidade a obra, pois ninguém aguenta mais filmes em que o personagem saí da mesma forma que chegou, sem mudanças, sem arco, sem variações. Três anúncios brinca o tempo todo com a personalidade de seus personagens, brinca de uma forma inteligente e que nos faz flutuar entre o amor, o ódio, o medo, a empatia e a antipatia. Brilhante trabalho de roteiro.

Para dar mais corpo ao que venho dizendo, quero ressaltar o excelente trabalho dos coadjuvantes. São vários e todos com uma decência digna de aplausos, a começar pelo ótimo Woody Harrelson, que nos dá um Xerife experiente, que carrega uma dor enorme, por uma questão particular que você verá no decorrer do filme, e carrega a tristeza de não conseguir ajudar Mildred a encontrar o assassino de sua filha. Woody Harrelson tem uma atuação fantástica, seu personagem tem aquele velho humor negro, que misturado a dor, constrói um personagem que nos cativa, mesmo não correspondendo ao estereótipo do “Bom policial”. Sam Rockwell nos dá Dixon, um policial agressivo e meio pirado, que age por impulso e até é comentado na cidade como racista. O arco de Dixon é muito bacana e há também a relação dele com sua mãe, que também funciona muito bem para o desenvolvimento do personagem. Temos Lucas Hedges, que vai muito bem como filho restante de Mildred, Peter Dinklage, também vai muito bem como um admirador de Mildred, John Hawkes vai bem como ex-marido pirado.... Enfim, você já entendeu, o corpo de atores de Três Anúncios para um Crime é brilhante, e palmas para Martin McDonagh, que escreveu esse ótimo roteiro.

Por fim, gostaria de falar de Frances McDormand, que nos dá Mildred Hayes, uma mulher durona, que está cansada de esperar passiva pela ação dos outros. Uma mulher que sofre o tempo todo pela perda da filha, e principalmente por não ter conseguido construir uma boa relação com ela. Meu, o que essa mulher, Frances McDormand, faz, é um absurdo! Uma atuação brilhante, o texto flui de uma maneira incrível, com virgulas, expressões, trejeitos. Você sente o ódio de Mildred, a dor de Mildred, o sarcasmo de Mildred, você sente tudo através das expressões faciais de Frances McDormand, que entrega uma mãe arrasada, uma pessoa quebrada pela morte, uma mulher com rugas. Frances McDormand nos dá a dor de uma mãe que perdeu sua filha, e faz isso de uma forma que eu jamais havia visto anteriormente.

Três Anúncios para um Crime é um filme fantástico, de personagens vivos. Uma história simples contada da melhor forma possível. E que reverenciemos Frances McDormand por sua belíssima atuação.

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