Corra! | Crítica
fevereiro 07, 2018
Corra! É o primeiro filme dirigido por Jordan Peele, e conta
com o excelente Daniel Kaluuya como protagonista. O filme aborda principalmente a temática do racismo, e obtém sucesso, pois o faz isso de uma maneira bem inédita.
Chris Washington (Daniel Kaluuya), vai conhecer a família de
sua Rose Armitage (Allison Williams), sua namorada a mais ou menos 5 meses, mas essa visita acaba se transformando em uma série de situações estranhas e assustadoras.
Em uma das cenas iniciais do filme, Chris pergunta logo de
cara a Rose, se ela já havia contado aos seus pais que namorava um cara negro,
e ela desconversa dizendo que seus pais são tranquilos e abertos. Aqui, Jordan
Peele nos aponta uma direção.
Há uma outra cena, em que, durante a viagem eles acabam
batendo em um cervo na estrada e um policial começa a encrencar com Chris. Rose, como uma
boa namorada, se mete no meio criticando a atitude do policial. Aqui Jordan
Peele nos aponta outra direção.
Quando chegam, Chris começa a lidar com um racismo disfarçado.
O famoso: Não tenho nada contra, até
tenho amigos negros. E o filme trabalha bem com essa ideia, numa festa em
que praticamente todos os convidados são brancos, as conversas com Chris só
acontecem através de estereótipos, e da citação de personalidades negras, numa
tentativa de mascarar o racismo eminente.
O filme vai ganhando o aspecto non-sense aos poucos, e quando
isso acontece nós somos imersos junto com Chris nessa espiral de eventos e
diálogos perturbadores.
A mãe de Rose (Catherine Keener) é terapeuta e diz que pode
hipnotizar Chris para que ele pare de fumar. Essa cena é maravilhosa! O filme
faz a transição do real, para a animação, e depois extrapola isso com o surreal.
Transições muito bem-feitas, por sinal.
Muito dessa imersão acontece graças à excelente atuação de Daniel Kaluuya, que faz
caras e bocas, expressões realmente expressivas, entende? Ele tem esse poder
quando arregala os olhos e as lágrimas escorrem, ou quando franze os olhos,
torce a boca, enfim....
O filme também nos apresenta o melhor amigo de Chris (Lil Rel
Howery), que é um alívio cômico pontual e preciso! Ele funciona muito bem para
a história em todas as suas aparições, falando em gírias e nutrindo um “racismo
para com os racistas”, saca? É sensacional!
Jordan Peele, que é conhecido por suas sketches para a internet, seus especiais de comédia e por Key and Peele − uma comédia feita em sketches para a tv −, demonstra um controle muito grande sobre o filme, e consegue encontrar um equilíbrio entre o comum e o non-sense, tratando a questão do racismo com um humor muito eficaz.
Daniel Kaluuya controla o filme tranquilamente, tem uma
atuação segura e suas expressões faciais são incríveis! É um ator jovem e
que, depois dessa atuação nós com certeza o veremos em muitos outros grandes
filmes.
Corra! É um filme equilibrado, que utiliza o humor e o
non-sense para contar uma história sobre racismo, extrapolando questões, e nos levando a pensar no “E se”, ou seja, missão cumprida.
Um excelente protagonista, dois bons coadjuvantes, uma direção
segura, transições suaves do non-sense para o real e uma proposta de discussão
extremamente atual. Corra! É um ótimo filme, e nos dá boas expectativas para o futuro de Jordan Peele como diretor e de Daniel Kaluuya como ator.
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