A Forma da Água | Crítica
fevereiro 02, 2018
Os monstros salvaram Del Toro, e em A Forma da Água, Del Toro parece querer
nos dar motivos para acreditar em um amor sublime e irreal, um amor intangível
e puro, o amor entre um monstro e uma mulher, e ele o faz, nos apresentando uma união que sem palavras, nos fala mais que mil
filmes de romance ambicionam dizer.
A Forma da Água é a história de amor
entre Elise Esposito (Sally Hawkins) e A
Forma (Doug Jones). Um amor que surge aos poucos, quando Elise, uma
solitária faxineira, é encarregada da limpeza da área secreta em que A Forma
está presam, num centro de pesquisas governamental.
A história se passa no início da
década de 60, então existe uma tensão política causada pela Guerra Fria, como pano de fundo. Aquela velha
disputa entre americanos e russos pelo poder, influência e pelos avanços
científicos e tecnológicos. Nós sentimos o peso dessa tensão, pelo desespero de
Richard Strickland (Michael Shannon), que perde A Forma, prestes a se aposentar
com glórias por tê-la capturado, e que agora, precisa mais do que nunca,
recupera-la.
O filme tem suavidade e delicadeza
impar ao mostrar a aproximação entre Mulher e Monstro. Uma aproximação em que
palavras não são ditas, visto que o Monstro, é um monstro, e Elise, é muda. O
modo como Del Toro nos mostra essa aproximação e o nascimento da comunicação
entre os dois, é tão doce, tão meiga, tão cheia de carinho, é algo digno de
aplausos, pois Del Toro nos apresenta uma versão do amor tão bela, que nos faz
querer compartilhar com os personagens, tais sentimentos.
No primeiro ato, Del Toro nos
apresenta a vida de Elise e sua rotina. Dentro dessa vida, existem dois
personagens magníficos, que nos cativam imediatamente. Giles (Richard Jenkins),
vizinho de Elise, e Zelda Fuller (Octavia Spencer), melhor amiga de Elise e
companheira de trabalho. Del Toro utiliza muito bem o humor para construir o
primeiro ato. Os diálogos entre Giles e Elise, entre Zelda e Elise, são divertidíssimos,
porque como Elise não fala, ela acaba sendo a ouvinte perfeita, e então os dois
falam e falam e falam sobre suas vidas e suas desgraças. Essa construção é divertidíssima,
e Richard Jenkins e Octavia Spencer, entregam dois coadjuvantes de se aplaudir
de pé!
Del Toro retorna à uma parceria de
muito sucesso ao dar o papel da Forma
para Doug Jones, que atuou como Fauno em O
Labirinto do Fauno, filme de Del Toro que é praticamente unânime entre a
crítica. O Homem Anfíbio, em A Forma da Água, traz uma poesia em cada movimento, e dá a oportunidade à Del Toro de referenciar o cinema clássico. O aspecto visual é magnífico, bem como toda a fotografia de Dan Laustsen que captura essa poesia em cada quadro.
A Forma da Água é um filme de inúmeros
méritos, a começar pela ótima direção de Del Toro, o ótimo roteiro, o ótimo
casting, a música de Alexander Desplat que é suave e casa com o filme em todos
os momentos e a atuação de Sally Hawkins, digníssima de Óscar.... Mas, ouso
dizer que o maior mérito do filme, é perguntar: “O que nos torna humanos? ”
O Filme tem problemas? Sim, mas se tornam quase irrelevantes, porque Del Toro acertou a mão em cheio, dando
suavidade, delicadeza e doçura a este belíssimo filme, que mostra a
evolução de um diretor que não se contenta com o real, não se prende ao convencional,
e permite que a fantasia ganhe vida, em forma de monstros que nos lembram do
que realmente nos faz humanos.
A Forma da Água é uma história de amor
única. Uma fábula escrita, dirigida e atuada, com uma paixão única, uma paixão
que transborda da tela para as poltronas, uma paixão que nos imerge nesse belíssimo
mundo fantástico de Guilhermo Del Toro.
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