Me chame pelo seu nome | Crítica

janeiro 22, 2018


O filme é belíssimo em mostrar os sentimentos em sua mais simples complexidade. É como se a paixão estivesse encarnada e fosse palpável. O filme não falha em nos imergir no mais íntimo de corações cheios de dúvidas e ensandecidos pelo desejo e pela paixão.

Me chame pelo seu nome, é um filme onde a beleza dos sentimentos transborda.

O Filme de Luca Guadagnino se passa no norte da Itália, em 1983.

É verão e acompanhamos Elio (Timothée Chalamet), que não tem lá muito o que fazer no lindo interior italiano. Ele lê, estuda música e nada no lago próximo à casa de seus pais. Em meio às tediosas férias, Oliver (Armie Hammer), um acadêmico americano, chega à casa com o intuito de auxiliar o pai de Elio em sua pesquisa.

A primeira metade do filme, consiste no desenvolvimento da relação entre Elio e Oliver, que a priori é cheia de sarcasmo, mas que aos poucos evoluiu para algo intenso e complexo. Elio é um jovem de 17 anos, que está tentando se entender, enquanto enfrenta uma imensidão de pensamentos e perguntas.

A relação entre Elio e Oliver, tem sua primeira evolução considerável quando Elio, vê Oliver dançando e beijando uma garota em uma festa local. O ciúme o domina, e então nós percebemos que já existe um sentimento a mais por Oliver. Elio passa o dia o esperando. Elio vai para a cama o chamando de traidor. Isso é importante, porque esse “ciúme” faz com que Elio se envolva com Marzia, uma garota que tem a sua idade e faz parte de seu grupo de amigos.

Aqui há um ponto interessante. Elio e Marzia tem uma experiência sexual que é filmada bem no cantinho da tela. Essa forma de filmar a cena, significa muito diante do todo que compreende o filme, e também diante da sexualidade e coração de Elio - Como se ele não soubesse se é isso mesmo que ele quer, é algo dúbio, por isso a cena é posta no canto da tela, como se demonstrasse à incerteza do ato. Há uma outra cena em que Elio e Marzia transam, e nesse momento a coisa toda é cercada de risos e humor. Imagino que esse tom mais engraçado, queira nos dar a entender que a “importância” do acontecimento não é grandiosa, pelo contrário, tal como a câmera os filmando quase no fim da tela. Elio teve essas relações com Marzia, mas nunca foi algo intenso, sua motivação talvez tenha sido tampar o ciúme com algum outro sentimento.

Esse jogo de câmeras acontece durante todo o filme, e são cenas belíssimas. A Itália tem paisagens ricas e o filme as utiliza muito bem, tal como “Master of none” o faz em sua segunda temporada, mostrando a pacata cidade, a natureza e os prédios antigos. Mas, quando Elio e Oliver começam a se aproximar de forma mais romântica, a câmera começa a fechar ainda mais e vemos em praticamente todos os momentos, os dois juntos, entrelaçados, cheios de sensualidade, paixão e um “Q” de descoberta que permeia cada beijo, cada toque e cada conversa.

Há uma cena, em que os dois estão sentados sobre a cama, e Elio aos poucos vai aproximando seu pé por sobre o pé de Oliver. O que de certa forma, também diz algo sobre como tudo aquilo era complexo para ele, de forma que o contato que coloca “fogo” nas coisas, é lento e feito praticamente como em uma guerra, onde cada centímetro é conquistado com muito esforço. Elio, lentamente bota seu pé por sobre o pé de Oliver e então as coisas se desenrolam em uma noite que é o estopim dessa paixão, que já existia, mas ainda era incerta para ambos.

As cenas em que os dois estão juntos, são sensuais, apaixonadas, carinhosas, como se os dois estivessem juntos fisicamente, em um único corpo. Estão próximos e se beijam o tempo todo, e experimentam o corpo um do outro, palmo a palmo, o tempo todo. O filme é cheio de sensualidade, mas em nenhum momento isso fere, porque tudo é feito com uma paixão que emana para a tela.

O filme é belíssimo, porque não se trata apenas de um relacionamento homossexual, mas principalmente de uma relação que queima, cativa e apaixona. É o retrato de um fogo que queima rápido, e deixa marcas. O filme é sobre descoberta, porque Elio, em todos os momentos está refletindo sobre si mesmo, e quando está com Oliver, as reflexões passam a contempla-lo também, de forma que a despedida é dura não só pela paixão que Elio tinha por Oliver, mas porque agora Elio tinha de pensar em si mesmo de outra forma, já que Oliver havia partido.

O elenco é muito interessante, mas Timothée Chalamet e Armie Hammer, tem uma química impressionante, demonstrando cada um à sua maneira, a dualidade e o conflito de pensamentos que os bombardeia o tempo inteiro. Isso ocorre principalmente com Timothée, que entrega em “Me chame pelo seu nome” uma atuação riquíssima e intensa em todos os sentidos e momentos.

O Pai de Elio, já na parte final do filme, tem uma conversa com ele que é simplesmente incrível e inspiradora, uma lição valiosa – Não é uma moral da história boba -, que pode fazer muito sentido para muitas pessoas que vivem incertas sobre si mesmas.

O filme é todo belo, figurino, fotografia, os atores, todos são muito belos e a sensualidade, o nu, a paixão, todos esses elementos estão em um baile, numa sincronia perfeita, com uma trilha doce e pontual.

Me chame pelo seu Nome, é uma obra maravilhosa, roteirizada por James Ivory, Dirigida por Luca Guadagnino, e de forma surpreendente e brilhante, entregue a nós pela doce, complexa e sincera relação de amor entre Elio (Timothée Chalamet) e Oliver (Armie Hammer).

Para encerrar de forma bem clichê, o filme diz:


Viva o amor enquanto se pode viver o amor. 

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