Abaixo de Zero | Breat Easton Ellis

janeiro 24, 2018

Abaixo de Zero – Breat Easton Ellis

Ler Abaixo de Zero é mergulhar na década de 80, nas classes mais altas da sociedade, nas festas mais luxuosas, nas vidas mais áridas, frias e vazias de todo o mundo. É claro que isso é uma hipérbole, mas é o que Breat Easton Ellis quer nos fazer pensar. E faz isso ao nos levar a conhecer esse mundo cheio de drogas, festas, sexo e vazio, através da visão de Clay, nosso narrador e protagonista.

Clay, está de férias da faculdade, volta para casa de seus pais em Los Angeles. Estão reunidos outra vez, Clay e seus amigos da época da escola, bem como uma antiga namorada. A volta para casa, significa chafurdar nas mais profundas águas do vício, luxúria e dinheiro. Festa após festa, carreira após carreira, transa após transa, tudo o que sentimos ao vivermos essas “aventuras” junto de Clay, é vazio.

Breat, trabalha o livro em um único capítulo. É uma leitura rápida e deliciosa, porque as descrições, as cenas, os diálogos, tudo acontece em alta velocidade, e as poucas semanas em que acompanhamos Clay de férias em Los Angeles, com seus amigos, são suficientes para sentirmos uma espécie de “dó”, o que é irônico, tendo em vista que os fudidos aqui somos nós, não eles. Eles vivem entre estrelas do cinema, da música, andam em grandes carros, almoçam em belos restaurantes, bebem até não aguentarem mais, cheiram, fumam, metem, porra.... Por que sentimos dó deles, afinal?

Talvez tenha relação com a constante tristeza, com as constantes crises existências e nervosas de Clay, quero dizer, todos esses meios alternativos de colocar você lá em cima, não tinham efeito algum, era somente o vício e a constante queda, uma queda longa, lá do alto, aterradora.

Existe um momento em que alguns amigos de Clay, o chamam para o apartamento para mostrar a última grande novidade. Clay os segue, e encontra uma garota amarrada sobre a cama, os pés amarrados aos pés da cama, e as mãos amarradas à cabeceira da cama. Estava nua em forma de X. A menina tinha 12 anos, e estava sendo fodida por todos eles, constantemente. Clay foi convidado para participar, mas aquilo o enojou, e então temos um diálogo brilhante:
− Por que? – É tudo o que pergunto a Rip;
− O que?
− Por quê, Rip?
Rip parece confuso:
− Por que o quê? Está se referindo ao que ocorre lá dentro?
Tento balançar a cabeça.
− Por que não? Qual é o problema?
− Porra, Rip, ela só tem onze anos.
− Doze – Rip me corrige.
− Está bem, doze – digo, pensando pouco nisso.
− Ei, não olhe pra mim como se eu fosse um tipo de escroto ou porra assim, não sou não.
− É que.... – Minha voz some.
− É o quê? – Rip quer saber
− É que.... Não acho isso certo.
− O que é certo? Se você quer uma coisa, tem o direito de tomar. Se quer fazer uma coisa, tem o direito de fazer.
Apoio-me na parede. Posso ouvir Spin gemendo no quarto e o som de uma mão dando um tapa, talvez num rosto.
− Mas você não precisa de nada. Tem tudo – digo.
Rip olha para mim:
− Não. Não tenho não.
− O quê?
− Não, não tenho.
Depois de uma pausa pergunto:
− Que merda, não tem o quê, Rip, o que você não tem?
− Não tenho nada a perder.
Rip vira e volta ao quarto. Dou uma olhada e Trent está desabotoando a camisa, olhando para Spin, escarranchado sobre a cabeça da menina....”

Breat, nos leva em uma espiral que parece jamais ter fim. Acompanhamos as drogas indo e vindo, acompanhamos um deles endividado, fazendo programas para pagar a dívida e tentando sair desse sistema maldito, mas sendo, através da heroína e de ameaças pontuais, controlado. Somos levados à um beco onde jaz um garoto morto, e as pessoas entram e saem do beco aos risos, achando muito engraçado que mais um jovem viciado estava lá, apodrecendo sob a escuridão de um beco qualquer.

A riqueza, o status, o poder. Clay e seus amigos estavam imersos até o pescoço nessa merda toda, cegos e viciados, cansados do ordinário e exaustos do extraordinário. Qual seria a próxima novidade que tornaria a despertar seus olhos para o mundo?

“O apanhador no campo de centeio para a geração MTV” – USA TODAY

Eu não li “O apanhador no campo de centeio”, foi mal Salinger, mas é isso que tá escrito na contra capa do livro. Parece uma comparação importante, e é só por isso que está aqui.

Só pra finalizar, eu amei essa porra de livro. Fiquei angustiado, com o pescoço fechando a cada novo degrau que desci junto de Clay. A narrativa é maravilhosa, a leitura passa num piscar de olhos. A escrita do Easton Ellis é suave, direta e objetiva, um primor! Um mergulho no vazio existencial, e na busca incessante por formas de se preencher.

Porra, Abaixo de Zero é do caralho!

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