Clube da Luta | Você Não é Especial

julho 12, 2018




Clube da Luta é uma adptação do livro de mesmo nome, escrito por Chuck Palahniuk. O filme lançado originalmente em 1999 teve um começo bem complicado, porque foi entendido pelo público como uma glorificação gratuita da violência, como um convite às armas contra o sistema e no Brasil, inclusive, tivemos um atentado terrível em uma sessão do filme (Um estudante de medicina metralhou várias pessoas). Uma prova de que as pessoas definitivamente não estão preparadas para qualquer tipo de confronto e é justamente isso que Clube da Luta oferece, um confronto.

David Fincher e seu estilo controlador por trás das câmeras, talvez nunca tenha se revelado tão importante em toda sua filmografia como se revela em Clube da Luta. O filme, nas mãos de outras pessoas, poderia ter descambado para a violência gratuita, mas a adaptação foi feita com tanto cuidado − desde o roteiro feito por Jim Uhls sob a supervisão do autor, até a direção inventiva de Fincher −, que eliminando as compreensões perigosas, oferece uma série de questionamentos e acima disso, um retrato impressionante do homem moderno.

O protagonista está com seus 30 anos. Tem um emprego estável e o apartamento que qualquer jovem gostaria de ter. Tem o mesmo apreço pelo consumo que qualquer outra pessoa. Mas, apesar de tudo ele tem insônia e passa noites seguidas em claro. -

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O protagonista da obra se encontra em um jogo de regras pré-estabelecidas, no qual ele é apenas um peão em cuja mente foi plantada a ideia de que poderia se tornar um rei, através da repetição da rotina em um trabalho que pague bem, à compra de artigos que tragam comodidade e a perseguição de sonhos que são comuns a todos, como a construção familiar e o estoque de riqueza.

A raiva e as manifestações violentas que surgem na obra por meio da reunião de alguns homens, surgem justamente após a compreensão de que essas ideias implantadas são absolutamente mentirosas, no sentido de que o peão não se tornará Rei, não terá riquezas para estocar, nem fama para gozar ou qualquer outra coisa do tipo. É insatisfação, é enxergar que durante 30 anos foi guiado por um caminho que não o levará para os livros de história. A angustia de acompanhar a sua própria transformação, de você mesmo em seu pai, de notar que as vias estão se estreitando e o peão só tem um caminho para seguir.

Clube da Luta manifesta justamente isso. O descobrir-se no jogo, a compreensão das regras e das mentiras, a raiva que se mistura ao medo e promove o nascimento do Clube que liberta os homens dessas amarras, através de socos e pontapés – que não são apenas socos e pontapés, mas são atos contínuos de libertação e rebeldia, é a punição pela passividade. O peão cruza o tabuleiro quebrando as regras e pervertendo o curso do jogo. Auto aperfeiçoamento é masturbação, agora autodestruição....

Quando Tyler diz: Você não é especial¸ ele está acendendo o pavio de toda uma geração desesperada para sair do caminho que estava traçando. É uma provocação que se encaixa como a peça que faltava no quebra-cabeça que aqueles homens estavam resolvendo e que revelava a imagem completa de um homem vazio.

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Clube da Luta é um filme de 1999. Já fiz um vídeo sobre como a obra me influenciou, então qual a necessidade de escrever mais um texto abordando essas questões?

Nesse momento, tenho diante de mim – nessa ordem −, teclado, xícara, mouse, monitor, quadro negro de cortiça e por fim a parede. Não sei se você consegue visualizar, mas esse quadro negro está absolutamente ao lado do meu monitor e nesse quadro, além de alguns lembretes sobre escrita como “Não use tantos verbos de pensamento (obrigado Chuck) ” ou “Não use tantos ques”, há também um pedaço rasgado de sulfite escrito Você não é especial porra, Você não é especial porra. Você não é especial porra. Você não é especial porra. Essa frase repetida quatro vezes. É um lembrete e outro dia bati os olhos nesse pedaço de papel e me coloquei a pensar acerca da obra, de sua mensagem e do porquê de ter posto esse lembrete bem diante dos meus olhos.

A resposta é muito simples, na verdade. Em algum momento do passado eu tirei o pó da minha máquina de escrever, bati as teclas repetidas vezes e prendi essa frase no meu quadro negro, porque eu preciso ser lembrado diariamente de como nos manipulam, de como fazem de nós Hamsters correndo numa rodinha. Dizem que se corrermos muito, alcançaremos, mas estamos presos em uma rodinha dentro de uma gaiola e nós correremos para lugar nenhum.

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Você não é especial.

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