Mr. Robot | Anarquia e liberdade

maio 09, 2018



Mr.Robot é uma excelente série. E acredite, ela vai muito além das frases que viram posts para o facebook. Mr.Robot nos apresenta o mundo de uma forma muito pessimista. Apresenta a sociedade na forma de uma cebola, formada por camadas e camadas e camadas, poder, influência e manipulação, coisas que nós nem ao menos conseguimos imaginar. De certa forma, podemos estabelecer um paralelo com a série House of Cards, que também mostra de uma forma bem interessante essas múltiplas camadas da política e do poder.

A série apresenta um grupo de Hackers que quer pôr fim à maior corporação do mundo, uma empresa que trabalha em diversas frentes e que praticamente assumiu o monopólio mundial de tecnologia. As pessoas são dependentes dessa grande empresa e esse grupo quer acabar com isso, devolver ao povo a liberdade, apagando dívidas e destruindo registos bancários. Esse grupo de Hackers, denominado “Fsociety” passa a trabalhar atrás das telas para destruir o capitalismo. Aqui nós podemos estabelecer outro paralelo, dessa vez com Clube da Luta.

O Protagonista da série é Elliot Alderson, um jovem que vive oprimido pelo seu passado, sofre de transtorno de ansiedade, depressão e é viciado em morfina, ao mesmo tempo que é um Hacker talentosíssimo. A complexidade desse personagem é tamanha que a fotografia e a direção de câmeras são totalmente influenciadas pelo seu estado de espírito. A série não tem medo de ousar na forma de filmar as cenas e aproveita dos problemas do personagem, para refletir esse estranhamento nas câmeras. Quando Elliot recebe uma notícia que vai contra os planos que havia feito, a câmera filma de cima para baixo, ou invertida, quando Elliot está drogado a câmera se aproxima dele, distorcendo sua imagem, enfim, a instabilidade do personagem é refletida na fotografia o tempo todo e isso é criativo e corajoso, é um elemento muito bem utilizado para contar essa história.

É interessante ver como a série vai construindo o personagem e a sua identidade visual e estilística. A fotografia, por exemplo, é quase sempre muito lavada, dessaturada, muitos tons de cinza, assim como o personagem, que está sempre de preto (Exceto no trabalho), refletindo o seu estado emocional e psicológico, como se estivesse em um quarto escuro, cercado por todas as experiências ruins que teve em sua vida. O preto também é entendido como ausência de luz, ao passo que o branco é entendido como a presença de luz. Outra vez a analogia do quarto escuro. Elliot é formado de experiências negativas e problemas que a série vai apresentando aos poucos, dando cada vez mais profundidade ao personagem.

“Mr.Robot” (Christian Slater) é o líder do grupo Fsociety e por conhecer muito bem o talento de Elliot, o convida para integrar o grupo que será responsável pela maior reviravolta da história da humanidade. Ao destruir a megacorporação E-Corp, o grupo construíra um novo mundo. Esse é o ideal compartilhado por Darlene (Carly Chaikin), Mobley (Azhar Khan), Trenton (Sunita Mani), Elliot (Rami Malek) e Mr.Robot (Christian Slater). A relação entre Mr.Robot, Elliot e Darlene, é uma relação interessantíssima, mas qualquer informação é um spoiler – Vale a pena a surpresa.

A série tem um clima bem tenso o tempo todo. Estamos lidando com um evento que pode mudar completamente o rumo do mundo, estamos diante daquilo que pode ser a derrocada da maior corporação da história da humanidade, então não poderia ser diferente. Existem muitas pessoas interessadas. Existem políticos, existem grandes empresários, existem nações interessadas nessa possível mudança, existem pessoas esperando o momento certo para assumir o controle quando a bomba explodir.

A série constrói muito bem esse clima. Quando estamos falando de Hackers, estamos falando de pessoas poderosíssimas, cujo talento pode ser usado de qualquer forma. Quero dizer, o que protege nossas informações não passa de uma porta com a chave para o lado de fora, eles podem entrar e capturar o que quiserem, quando quiserem. Agora pensando no potencial que hackers talentosos têm, unidos por um ideal.... Digamos que a série até flerte um pouco com o clima de Guerra Fria e espionagem, entende? É um jogo e só os melhores vão sobreviver.

Mr. Robot é uma série realmente interessante. É difícil escrever sobre ela sem dar grandes spoilers, porque a série tem ótimas reviravoltas. Aconselho que se você for assistir, assista sem procurar nada a respeito na internet. Vá para a série sabendo apenas o que te contei e deixe que a estética da série, as câmeras, os personagens, a música e esse ideal te guiem por essa narrativa complexa, interessante e muito reflexiva.

A Série criada por Sam Esmail, têm 3 temporadas e brinca com o “E SE”, de forma muito provocativa. Citando os paralelos outra vez, a trama tem um pouco de Clube da Luta e um pouco de House of Cards, o que já seria o suficiente para ser muito boa, mas ela consegue assumir uma identidade particular, pautada principalmente na complexidade de Elliot Alderson e na boa construção de trejeitos de Rami Malek, apostando na apresentação de personagens poderosos e interessados em um “apocalipse” que pode ser começado com um simples clique, a pergunta que fica é:

Existe liberdade para nós?

FSociety,

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