Um Pequeno Herói | Fiódor Dostoiévski

abril 18, 2018


Escrita em um de seus piores momentos da vida, se não o pior, Um Pequeno Herói é a obra mais luminosa de Dostoievski.
Narrada pelo próprio personagem sob ambientes festivos, claros, com sol, flores, arvores e natureza a história é um contraste a toda sua obra que por característica é muitas vezes densa, escura e claustrofóbica.

E é nesse clima mais ameno que nosso personagem, ou melhor dizendo, nosso pequeno Herói passa por sua primeira experiência amorosa através de desejos ainda incompreensíveis a si mesmo.

Segundo os gregos, Herói é quem se distingue por seu valor e por seus atos extraordinários!  Ora, como um menino de 11 anos pode ser um Herói numa atmosfera infestada, num antro social dos jogos e da trapaça e teoricamente já sem esperança?
Há dois momentos que é de suma importância nessa obra que explicitará tudo isso a partir da ordem impulsiva e racional dos atos do garoto.

Como já foi dito, os acontecimentos e até os atos mais repulsivos são descritos de maneira delicada e sutil, no entanto, num dado momento, o ácido autor é reconhecido numa descrição impecável dos ditos homens modernos...

_''Era antes de mais nada um europeu, um homem moderno, com modelinhos de novas ideias, e que se vangloriava delas. De aparência, tinha cabelos escuros, era alto e particularmente corpulento, com suíças à moda europeia, rosto corado e presunçoso, dentes brancos como o açucar, e conduto irrepreensível de cavalheiro. Era tido como homem inteligente. É assim que, em certos círculos, se denomina a uma espécie peculiar de indivíduos que engordam a custa alheia, que não fazem absolutamente nada, que não querem fazer absolutamente nada, e que, por sua preguiça e ociosidade eternas, têm um pedaço de banho no lugar do coração.''
(Pág. 22)_

A parte esse momento de histeria ocasional, a doçura e sensibilidade nos conduzirão ao desfecho final do livro, onde o nosso herói se reafirma através de uma atitude digna de seu adjetivo e digno do título do livro.

_"...e lágrimas, lágrimas doces, jorraram dos meus olhos. Cobri o rosto com as mãos e, tremendo todo como a haste de uma erva , entreguei-me sem defesas a esse primeiro desvelamento e revelação do coração, à primeira intuição ainda vaga da minha natureza. Minha primeira infância terminou nesse instante".
(Pág. 62)_

A última frase é impactante, reflexiva e de autoafirmação.
Afinal, como definir melhor uma ação heroica se não a de sacrifício?
Quando ele diz que perdeu a infância aludindo ao momento passado, onde, dentro da história ele toma a atitude que o proporciona tal título, é de uma beleza peculiar sua grandeza, já que para proporcionar um momento bom a um indivíduo, ele age como próprio mártir e assassina talvez o estágio mais feliz e puro da nossa vida: o da infância.

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